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terça-feira, 20 de julho de 2010

Angela.

E se pelo menos alguma coisa acontecesse. Era só o que Angela queria, que alguma coisa, de fato, acontecesse. Para queimar, para doer, para arder, para a(r)mar. Alguma coisa qualquer que não fosse essa sensação de que era sempre segunda-feira, todos os dias da semana eram segunda-feira. E cadê o brilho, cadê a luta, cadê o potencial? E, mais uma vez, hoje é dia de sofá com achocolatado.
Angela assiste à sessão da tarde, todos os dias. Gosta de se imaginar na revolução, acha que aquilo é que é lugar de mulher. Ainda bem que Ricardo não sabe ler pensamentos (ainda), pensa Angela, mais baixo que de costume, só para garantir. Tem tanto pensamento trancado prontinho, esperando pelo grito. Mas Angela não grita. Angela cozinha, passa, limpa e varre. Angela sonha com a revolução, sonha com qualquer coisa que soe como uma tentativa, e pensa em si mesma, bem longe dali, e só para se divertir mais um pouquinho, se imagina de quebra à frente dos protestos na província, de calças e cigarro na mão. E Ricardo todo ofendido, dizendo mas com essa daí é que eu não caso!

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